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domingo, 16 de março de 2014

Dois causos

Dessa viagem, feita quase sem sustos e em que tudo correu tranquilamente bem, não posso deixar de contar dois pequenos causos vivenciados. Um em Praga, no restaurante citado anteriormente, e outro na estação central de Budapeste. 

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Em Praga, logo no primeiro dia na cidade, fomos caminhando à procura de um restaurante indicado pelo guia (poucas vezes isso não deu certo). Chegamos em frente ao prédio, que não parecia um restaurante, e relutamos um pouco. Mas já que tínhamos andado tanto, e estávamos bem cansados de uma viagem de trem de 4 horas e mais algumas de caminhada pela cidade, entramos. Um garçom jovem, loirinho, magrinho, nos atendeu. O lugar parecia uma taverna de bárbaros, pensei comigo mesma logo na entrada. Estava lotado. Para esperar vagar uma mesa, sentamos no balcão e pedimos uma cerveja. Eu pedi uma grande, de 50 cl, larger (forte), enquanto o Alexandre pediu uma pequena, escura (mais fraca e quase doce). O garçom olhou bem pra gente, riu, e fez um gesto de que estava tudo trocado. 

Dois dias depois voltamos lá, dessa vez com uma amiga que mora em Praga -- e que fala tcheco. O garçom viu a gente, riu, e começou a conversar com ela em tcheco. O que falaram, não sei. Ela só disse que ele se lembrava de nós. Advinha por quê? 

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Budapeste, penúltimo dia de viagem. Fomos à estação central para pegar o trem para Viena. Com alguma antecedência, chegamos naquela tenebrosa estação (falo dela depois). Eu não sou nenhuma pata em viagem, consigo me virar muito bem com as várias indicações. Peguei os bilhetes de trem e fiquei ali perto da plataforma esperando a hora de embarcar. Um guardinha chegou perto, resmungou algumas palavras em magiar e viu os dados de nossa viagem: fez muitos gestos de que era aquela plataforma mesmo que o trem pararia. Ok, disso eu já sabia. Dali a instantes, o Alexandre foi dar uma volta pela estação e eu fiquei com as malas. Foi então que o trem chegou. O guardinha chegou perto de mim, me cutucava, indicava o trem, enquanto eu fazia sinais contínuos de que já sabia. Quando o trem parou na plataforma, o guardinha simplesmente pegou uma das minhas malas e foi levando. Tive que interceptá-lo, mostrando que o Alexandre não estava ali. Peguei minha bagagem e fiquei próxima à porta. Quando o Alexandre chegou, aquele guardinha, já a essa altura um chato de galochas, pegou rapidamente as duas malas e colocou-as para dentro do trem sem que pedíssemos, acomodando-as no espaço reservado. Depois, foi até as poltronas em que deveríamos sentar e ficou apontando. Nessa hora, eu já estava verde de raiva, por dois motivos: primeiro, eu não pedi ajuda nenhuma; segundo, eu não estava perdida e não precisava dele. 

É claro que tudo o que ele queria era dinheiro. Eu sabia disso desde o início, e por isso tentei me desvencilhar, inutilmente, daquele homem. Ao entrar no trem eu falei pro Alexandre: eu só tenho uma nota de mil florints e não quero dar todo esse dinheiro para o homem (mil forints é o equivalente a mais ou menos 3 euros). Tinha no bolso algumas moedas do dinheiro húngaro, que valem quase nada. Depois que nos acomodamos nos lugares, aquele guardinha continua plantado ao nosso lado. Eu fiz uma expressão, meio de indignação, meio de lamentação, dizendo em inglês que eu não tinha dinheiro, e entreguei aquelas poucas moedas. Ele resmungou muitas palavras, devolveu as moedas e saiu bravo do trem. 

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