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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Vila como reduto

A terceira e última etapa da nossa viagem à Bahia foi para a Praia do Forte, um vilarejo a 55 km do Aeroporto de Salvador, que se mantém rústico graças à integração do turismo à vida local da antiga vila dos pescadores. Claro que muito se perdeu ao longo das últimas décadas pelo crescimento turístico do local, mas ainda assim o charme de uma pequena vila à beira-mar encanta e aconchega. 

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Na vila há ótimos restaurantes, inclusive o badalado Terreiro Bahia, da chef Tereza Paim (ela tem um restaurante bastante conhecido em Salvador, Casa de Tereza), alguns resorts e pousadas aconchegantes. É lá, também, que fica a sede do conhecido Projeto Tamar, uma filial do Instituto Baleia Jubarte (que acompanha os passeios de observação de baleias e dá suporte informativo sobre os cetáceos), e ainda possui algumas piscinas naturais deliciosas à beira da praia. Enfim, depois da Chapada Diamantina, fomos lá para descansar.  

Igrejinha de São Francisco
Na vila, na rua principal, a Alameda do Sol, estão concentrados os principais restaurantes e muitas, muitas lojinhas de souvenires. Andar a pé pelas ruazinhas é encantar-se com cada casinha, com os becos, com o charme local. Isso, depois de um belo banho nas mornas águas da praia.

Praia do Papa-Gente
É na região da Praia do Papa-Gente (sim, com este esquisito nome) que se encontram as principais piscinas naturais, que na maré baixa (e não precisa ser tão baixa assim) dá para ver vários e vários peixinhos nadando a alguns metros da areia. 

Piscinas naturais
Há dois meios de transporte bastante específicos e curiosos: a Bici-táxi, um táxi de bicicleta, que leva até 4 adultos (mas vimos vários com muitas crianças empoleiradas), e o Tuk-tuk, essa motinho da foto abaixo, inspirado nos tuk-tuks indianos. Se o sol estiver a pino, como estava no dia que andamos nele, é a melhor opção para ir até o Castelo Garcia D'Ávilla, já que ele fica um pouco distante da vila (são 6 km).

Tuk-tuk
Enfim, há atividades para todos os gostos, para muitos dias, na Praia do Forte. Ficamos 4 dias por lá, e pudemos aproveitar bem as belas praias e ainda deu para um dia de whalewatching (observação de baleias). Como fomos em início de temporada das Jubarte na região, mas o dia estava lindo de morrer e o mar estava calmo feito um remanso, o barco avançou bastante mar adentro para vermos uma única baleiazinha. São 30 minutos de observação, fotos, "ooohhhs", e tchau. 

Saída de barco para ver baleias

Praia do Porto na maré baixa

Cachoeira da Fumaça

O passeio mais pesado que fizemos, na Chapada Diamantina, foi para a Cachoeira da Fumaça. Por causa do mau tempo, cancelamos o passeio para a Cachoeira do Sossego, que -- segundo quem já foi -- é mais puxado ainda. 

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A subida para a Fumaça tem duas partes: na primeira, que leva cerca de 1 hora, é uma subida íngreme e, portanto, bastante cansativa. A distância não é tanta, mas uma hora de subida insistente é realmente para tirar o fôlego. A segunda parte é bem mais tranquila, e leva também 1 hora: por um caminho plano, andamos até chegar à queda de impressionantes 380 metros de altura. 

Dados da trilha
A queda tem esse nome, Cachoeira da Fumaça, justamente pelo tamanho. De tão grande, raramente a água alcança o chão. Normalmente, acontece isso que se vê na foto abaixo: a água evapora! Como fomos em um dia de muito vento (um frio danado e uma chuvinha insistente), a queda só alcança os primeiros metros. Em seguida, a água toda subia, como uma cortina de fumaça, provocando um espetáculo maravilhoso...

Água da cachoeira subindo como fumaça
Localizada num cânion no Vale do Capão, dá vertigem só de pensar em chegar perto do precipício que se encontra ali embaixo. Como a natureza é perfeita, ela colocou ali, ao ladinho da queda, uma pedra bem firme para deitarmos e podermos visualizar a impressionante cachoeira. 

Deitado na pedra pra ver a queda
O medo não vai embora. Mesmo sabendo que a pedra é firme, que ela não vai cair, e que estamos deitados (normalmente, alguém ainda segura nosso pé por segurança), a vertigem é grande só de olhar lá pra baixo. Então, dá bem para compreender por que a água não chega até o chão: são, afinal de contas, 380 metros! Ao longo do paredão, incrivelmente, vemos várias pequenas quedas d'água, lindas, que enfeitam ainda mais a parede de rocha. 

A visão que temos quando deitados na pedra

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Outros

Aquele que descrevi no post anterior é conhecido nas agências como roteiro 1. Além dele, outros também são oferecidos no mesmo esquema de ida e volta no mesmo dia. Alguns com mais intensidade do que outros. Se optar por um trekking no Vale do Capão ou para o Morro do Pai Inácio por um dia, cerca oito horas de caminhada, será preciso desembolsar ao menos 120 reais por pessoa.

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O segundo roteiro mais vendido pelas agências é o que leva até o Poço Encantado e o Poço Azul. A distância até eles é de 140 km, o que aumenta o custo da viagem e também impossibilita mais atrativos, já que só de carro são duas horas de viagem. Como os poços ficam nas cercanias de Andaraí, é muito mais fácil visitá-los quem se hospeda por lá. Saindo de Lençóis, é realmente muito longe. 

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A visita ao Poço Encantado (Itaetê) rende fotos belíssimas, como essa abaixo. Mas a permanência na gruta do poço é rápida: no máximo, 15 minutos para ouvir as explicações e bater as fotos. Como essa imagem abaixo só pode ser obtida em determinados momentos (nos meses do outono e do inverno, das 10h às 13h30), as visitas são controladas por grupos e com tempo limitadíssimo. Além disso, não é permitido o banho. O poço, embora não pareça na foto, tem mais de 60 metros de profundidade! 

Poço Encantado
A luminosidade do Poço Azul (Nova Redenção) é semelhante, mas o horário em que os raios de sol incidem sobre a água, deixando-a ainda mais bela, é entre 12h30 e 14h30. Nosso grupo foi o último do dia a pegá-lo ainda clarinho assim. No Poço Azul é autorizado o banho, flutuação com colete (mergulhos são proibidos). A água é morninha (cerca de 24 graus) e a imagem que se tem do seu fundo é realmente incrível. Apesar de sua beleza, a demanda é grande e a permanência no poço, por isso, é de 20 minutos, no máximo. 

Poço Azul (diferente da Gruta Azul, note bem)
Pertinho de Lençóis, a 40 minutos de caminhada, numa trilha fácil, fica o Ribeirão do Meio. Sem precisar de guia, nem de uma longa jornada, é possível aproveitar uma cachoeira deliciosa, em banhos em pocinhos que parecem banheiras de hidromassagem naturais. Com água bem gelada, reze para ter um sol a pino pra aguentar o frio. Não precisa de guia, nem precisa pagar entrada. Basta gastar a sola do chinelo por alguns minutos e pronto, chega-se a um ótimo lugar para banho!  

Ribeirão do Meio: trilha tranquila e 40 minutos a partir de Lençóis

Para conhecer a Chapada

São várias as opções de passeios pela Chapada Diamantina a partir de Lençóis, cidade em que ficamos hospedados. As agências de turismo da cidade costumam oferecer passeios em grupos que variam de acordo com o preparo físico, o interesse e o tempo disponível. Para seguir com guia particular, eles acabam seguindo praticamente os mesmos roteiros, com leves alterações, por um preço um pouco mais caro, mas com mais liberdade. 

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Como foi nossa primeira vez na Chapada, o roteiro foi pensado a fim de dar conta de vários atrativos, com vários níveis de esforço físico, para os cinco dias em que lá ficaríamos. Optar por uma trilha longa (3 dias, no mínimo, pelo Vale do Pati ou pelo Vale do Capão) iria ocupar muito tempo. Além de ser uma opção bem cara. 

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Fizemos os passeios de um dia só, em grupos. Ou seja, a opção mais em conta que se pode fazer com guia. Dá para fazer vários passeios sem guia, mas é preciso ter carro e ter muita disposição para dirigir nas estradas que ligam os lugares (muitas vezes, de terra, ruim e longa). Como o Parque é realmente muito grande, as atrações são distantes. O passeio mais próximo foi este cujas fotos ilustram o blog abaixo, que inclui passeio ao longo da margem do Rio Mucugezinho, até chegar ao Poço do Diabo, lugar perfeito para nadar. 

Rio Mucugezinho
Poço do Diabo
Esse passeio é bem basicão, corrido, com muitos atrativos para um único dia. É, no entanto, o mais procurado, justamente pela diversidade de paisagens visitadas.  

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Depois do banho no poço, o passeio segue: seja para a Gruta da Lapa Doce, seja para o Morro do Pai Inácio (depende do tempo, se sol ou nublado). Quando o tempo está bem aberto, os guias levam os visitantes para apreciar o pôr-do-sol no Morro do Pai Inácio (que não vimos). 


Morro do Pai Inácio

Em cima do Morro do Pai Inácio

Apesar de render boas fotos, pelo azul das águas, a visitação à Gruta Azul e à Gruta da Pratinha são dispensáveis: o rio é sujo, recentemente teve suspeita de contaminação de esquistossomose, e é um lugar bastante muvucado. Quem for com guia particular, pode pular esse passeio, e o da Gruta da Lapa Doce, e visitar a Gruta da Torrinha, que -- dizem -- é a mais bonita de todas. 

Gruta Azul

Gruta da Pratinha

Gruta da Lapa Doce

sábado, 20 de julho de 2013

Lençóis

Assim como outras cidades da região, como Palmeiras, Andaraí e Mucugê, Lençóis é uma entrada para o Parque Nacional da Chapada Diamantina. É, dentre todas as opções, a cidade que possui a melhor infraestrutura (hotéis, restaurantes, agências etc.), embora não seja a maior de todas.

Diz a lenda que, em época de garimpagem na região, os trabalhadores estendiam seus acampamentos à beira do rio e os cobriam com lençóis. Para identificar onde estavam, diziam: lá nos lençóis. Assim ficou o nome da cidade.

Rio Lençóis e, à direita, o Mercado
Para chegar na cidade, é preciso percorrer, a partir de Salvador, mais de 400 km, levando de ônibus ingratas 7 horas na estrada. A cidadezinha tem o charme das cidades antigas: ruas estreitas, calçamento pé-de-moleque, casinhas coloridas e grudadas umas às outras. Parece uma mistura de Paraty com Ouro Preto. 

Rua dos Negos
A maioria dos restaurantes se concentra na Rua da Baderna e na Rua das Pedras. Na cidade, é possível encontrar comida para todos os tipos de gostos: desde comida regional baiana à comida mexicana, com restaurantes caseiros, aconchegantes e o sofisticado restaurante Azul, do Hotel Canto das Águas.  

Rua da Baderna e a oferta de restaurantes

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Entre rios e montanhas

Ir para a Chapada Diamantina e ficar pouco tempo não é uma boa ideia. Em dois dias não dá pra ver quase nada. Em três, você só irá cansar e não irá aproveitar. Em cinco dias, dá para ter uma noção. Mas o ideal é percorrer o Parque por dez dias. Explico: além de o parque ser enorme, a diversidade de passeios que é possível fazer preenche um mês inteiro de expedição. Além disso, alguns passeios são tão exigentes que no dia seguinte você quererá ficar deitado praticamente o dia inteiro (e com dor). Enfim, como sugestão dos guias, é sempre bom intercalar um passeio mais intenso com um leve (se encontrar tantos passeios tranquilos assim). 

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Em geral, as atrações da Chapada contemplam trekking pelos vales, cachoeiras e montanhas. E o esforço sempre vale a pena, acredite. A visão que se tem no final do caminho é sempre recompensadora. Afora isso, visitas a cidadezinhas que servem de base para pernoites, algumas cavernas e o próprio parque são um belo complemento ao cansativo itinerário que se queira fazer... não dá, portanto, para ficar "só uns dois dias". Você não irá conhecer a Chapada. 

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Abaixo, no caminho para o Morro do Pai Inácio (o passeio mais tradicional possível, saindo de Lençóis), os carros param no meio da estrada para a tradicional foto dos Três Irmãos. 

Três irmãos - Chapada Diamantina

E para subir o Morro do Pai Inácio, são apenas 20 ou 30 minutos de caminhada moderada. O carro para a alguns metros da guarita, onde começa a curta trilha. Não é preciso de guia, mas precisa de transporte até lá. Abaixo, também a tradicional foto do alto do Morro:  

Vista do alto do Morro do Pai Inácio
Em breve, algumas postagens sobre os passeios possíveis na Chapada Diamantina.

domingo, 7 de julho de 2013

Primeira etapa

Fitinhas no gradil da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim
Hoje finalizamos a primeira etapa da viagem: 4 dias em Salvador. Fizemos de tudo um pouco: compras no Mercado Modelo, o tradicional sobe-e-desce pelas ladeiras do Pelourinho, fitinha pendurada no gradil da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, experimentação de comida típica baiana, visita a vários museus dos mais diversos tipos etc. Enfim, um total reconhecimento da capital baiana, o preenchimento da lacuna cultural que me faltava. 

Agora, como próxima etapa, 6 dias na Chapada Diamantina, pouco tempo (mas o possível) para conhecer as inúmeras atrações do parque nacional. 

Elevador Lacerda e Baía de Todos os Santos

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Pelô

É possível conhecer Salvador de várias maneiras e em várias épocas do ano (o que pode determinar o que fazer na cidade). Mas, necessariamente, será preciso passar várias vezes pelo Pelourinho. A força cultural da cidade, e os principais atrativos turísticos, se concentram nessa região histórica. 

Placa indicando o Largo do Pelourinho
Seja para entrar nas lojinhas de artesanato, ou para visitar as inúmeras igrejas concentradas na região (a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim não fica ali), são necessários ao menos dois dias no Pelourinho. Só a Igreja de São Francisco, cuja abundância em ouro no seu ornamento é de tirar o fôlego, precisa de algumas horas de contemplação, tamanha é sua exuberância. Mas cuidado: há guias que ficam à espreita para "ajudar" os turistas e cobrar uma taxinha pelo seu serviço. Fomos içados por um deles, do qual foi impossível se desvencilhar, e a "taxinha" não era tão "inha"... Conhecer a Igreja sem guia não será uma perda, acreditem. 

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Há muitas outras coisas para conhecer entre o Pelourinho e a Cidade Baixa: a Sé, a Fundação Casa de Jorge Amado, o Museu da Cidade (dispensável), as intermináveis ladeiras do Pelô, o Solar do Ferrão, o Museu de Arte Sacra (fundamental e pouco visitado), o Mercado Modelo, o Elevador Lacerda... e ainda há tantos outros museus, outras igrejas, outras surpresas. Enfim, disponha de muita energia, boas pernas para o sobe-e-desce e, claro, jogo de cintura para se livrar dos inúmeros ambulantes que tentam vender fitinhas do Senhor do Bonfim. 

Fitas típicas de Salvador
Pegamos a cidade com os indícios da Festa de São João, com bandeirinhas distribuídas por todo o Centro Histórico. Isso deu um charme às fotos, mas também impossibilitou aquelas bastante tradicionais que todo mundo conhece do Pelourinho. Toda e qualquer foto, portanto, tem bandeirinha de Festa de São João. A seguir, algumas delas. 

Largo do Pelourinho. Ao fundo, a Fundação Casa de Jorge Amado




terça-feira, 2 de julho de 2013

Você já foi à Bahia?

Centro Histórico de Salvador (BA)
Foto de Fernando Dell'Acqua (CC-BY-10)

Você já foi à bahia, nega?
Não?
Então vá!
Quem vai ao bonfim, minha nega
Nunca mais quer voltar
Muita sorte teve
Muita sorte tem
Muita sorte terá


Você já foi à bahia, nega?
Não?
Então vá!
Lá tem vatapá!
Então vá!
Lá tem caruru
Então vá!
Lá tem munguzá
Então vá!
Se quiser sambar
Então vá!


Nas sacadas dos sobrados
Da velha são salvador
Há lembranças de donzelas
Do tempo do imperador
Tudo, tudo na bahia
Faz a gente querer bem
A bahia tem um jeito
Que nenhuma terra tem


(...)

[Vou ali ver o que essa terra tem e volto logo].