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terça-feira, 29 de abril de 2008

Um grande sonho

Desde a infância tenho duas viagens em sonho: Itália e Grécia. Para a Itália vou já no mês de junho, apenas para Roma inicialmente. Depois que Alexandre chegar e os preços baixarem, volto para conhecer outras cidades.

Para a Grécia, depois de pesquisar alguns preços e sites, fiz a reserva hoje do vôo: para Atenas, em outubro, por 100 euros ida e volta - o que eu considero muito barato. De lá, claro, tentarei ir a alguma ilha. Como outubro é baixa temporada, os preços são bem camaradas: em um hotel, a estadia para casal sai por 40 euros. Muito mais barato, por exemplo, do que ir para a Itália, considerando-se o padrão do hotel. Enfim, as coisas aos poucos vão acontecendo. Mas não pensem que estou indo à Grécia à toa: pesquisa de campo, claro, pois estudo tragédias.

domingo, 27 de abril de 2008

Encontros e despedidas

Ao longo de um ano morando em um lugar, especialmente quando se trata de um conjunto de apartamentos que mais parece uma grande república, é normal surgirem laços fortes de amizade. Há conflitos, claro, mas em relação a esses a gente abstrai e fica com o que é bom. Nashira, residente do 5º. andar, vai embora na madrugada de quarta-feira, depois de 13 meses morando aqui na Maison; ontem foi sua festa de despedida. Ela provavelmente sente muito o retorno, especialmente pelas relações que ela construiu em todo esse tempo. Na foto, da esquerda para a direita: Nashira, Letícia, eu e Cristiane.

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Hoje finalmente fui conhecer o Sacré-Coeur. Lugar muito agradável e especial de Paris, com uma imensidão de turistas. O dia estava muito agradável: sol, 23 graus. Consegui andar de blusa de manga curta pela primeira vez desde que cheguei. Fotos aqui, no álbum.

sábado, 26 de abril de 2008

Camille Claudel

A exposição que está no Museu Rodin, de Camille Claudel, é pequena. Tem aproximadamente 80 esculturas dela, mas as mais importantes são do próprio acervo do museu, de modo que as que vieram de coleções particulares ou de outros museus são as menores ou alguns bustos feitos em virtude de dificuldades financeiras.

Camille Claudel apresenta muita força e emoção em suas esculturas. Não cheguei a entrar no museu para ver as obras de Rodin (este é um dos museus que oferecem entrada gratuita no primeiro domingo do mês), mas a obra de Claudel emana uma melancolia e sentimento muito fortes, mais do que as do próprio mestre e amante (pelo que pude ver no jardim). Embora as faces das criaturas esculpidas, em obras como Sakountala ou L'âge Mûr, não sejam muito definidas, o conjunto (corpo, movimento, posição do rosto) apresenta ora desolação, ora desespero, ora paixão. É impressionante.

Em qualquer exposição temporária nos museus de Paris, a fotografia é proibida. Nos acervos permanentes, é possível fotografar sem flash. Mas eis um fato muito curioso e divertido: um dos guardinhas da exposição "autorizava" um senhor, pareceu-me fotógrafo, a clicar algumas peças. Pelo que pude acompanhar, na verdade, ele fotografou quase todas. Os dois conversavam em torno de uma obra, o guardinha ficava olhando para ver se ninguém vinha e autorizava. Perante qualquer perigo de serem pegos, ele dava um sinal e o senhor guardava a máquina fotográfica. Eu mesma, vendo tais peripécias, aproximei-me dele e pedi para bater uma foto. Mesma estratégia: escolhi uma e cliquei, enquanto ele tomava conta da situação. Uma senhora, vendo que eu bati uma foto, foi atrás. Mas, coitada, um outro guardinha veio chamando-lhe a atenção: "Senhora, sem fotos!"

O jardim do museu é uma coisa à parte: lindo, lindo. Ao longo dele é possível encontrar várias esculturas de Rodin em bronze, algumas famosas, como Les bourgeois de Calais, La porte de l'Enfer e Le Penseur. Quem viu Camille Claudel, filme com Isabelle Adjani e Gérard Depardieu, relembra a história das principais peças. Algumas fotos no álbum.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Penúltimo capítulo

No capítulo anterior da novela, houve um rápido bate-boca entre mim e a atendente da Prefeitura de Polícia em relação a divergências nos critérios de seleção para a carte de séjour. A atendente queria, a todo custo, que eu tivesse uma inscrição universitária na França, mas eu sabia que tal inscrição não é necessária.

No capítulo de hoje, eu estava na fila do térreo para passar pela primeira triagem: eis que eu vejo não a senhora de voz estridente que gosta de dispensar as pessoas, mas um rapaz sereno e que mandava todo mundo para o primeiro piso. Faltando duas pessoas para a minha vez, ela surge imponente escada abaixo: a senhora gordinha da voz de taquara-rachada. Primeira taquicardia. Mas dali eu sabia que saía rapidinho. Ela imprimiu minha senha - mas antes dispensou uma menina - e eu subi.

No andar de cima vi a mocinha que protagonizou o bate-boca e me mandou para casa aos prantos. Felizmente, fui atendida por outra pessoa. A funcionária de hoje era calma, gentil, diria até que graciosa. Ela viu minha documentação, soltou um "très bien" e pediu-me que esperasse (detalhe importante: em nenhum momento ela falou em inscrição formal na universidade). Segunda taquicardia. Dali a instantes ela me chamou novamente, entregou-me toda a documentação original, imprimiu meu título de séjour temporário e me encaminhou para marcar o exame médico. Très bien, pas de problème! Por que estresse?

Curiosidade: no andar térreo, na primeira triagem, a gente encontra os funcionários mais enérgicos. Lá é o verdadeiro furdunço da Prefeitura de Polícia; é onde estão inúmeros estrangeiros, muitos com informações desencontradas e sem saber exatamente como proceder. No primeiro andar, com suas cabines e atendentes, o humor varia. Hoje, por exemplo, todos estavam calmos, pois havia pouca demanda. Alguns até bocejavam, outros lanchavam. Há um número bem menor de estrangeiros solicitando o séjour por ali. Segundo andar: não é mais triagem, já é a reta final. Quem está ali, passou pelo crivo de todos os outros olhos e avaliações. Quantas pessoas estavam lá? Somente eu. Quantas pessoas já haviam passado por lá? Segundo as anotações do rapaz que me atendeu, não mais que oito pessoas. Para onde vão todos aqueles que formam uma imensa fila à porta da Prefeitura de Polícia logo cedo?

Também é interessante observar o quanto temos de nos apresentar na Polícia, mesmo no tempo curto que aqui permanecemos. O visto que é pego no consulado vale por 3 meses. Aqui, precisamos pegar o séjour, que vale por 1 ano, mas antes há um recibo que vale por 3 meses também. Caso não façamos o exame médico, não conseguimos a carte. 3 meses antes de vencer o prazo do visto de residente temporário, é preciso retornar à polícia para renovar o titre. Enfim, nessa brincadeira toda, a cada 3 meses temos de nos apresentar à polícia e dizer: "Olha, eu ainda estou aqui, legalmente, mas vou embora logo!"

Dia 20 de maio será o dia do exame médico e quando pego a carte de séjour definitiva, válida por 1 ano.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Dia das reservas

Hoje fiz algumas reservas: A dama das Camélias, balé da Opéra National de Paris, para dia 11 de julho, contando já com a presença de Alexandre em terras francesas. Aliás, as reservas para os espetáculos do próximo ano, 2008-2009, inicam-se a partir de junho. Para pegar os lugares mais em conta é preciso ficar atento. Óperas, balés e concertos. No próximo dia 3, aliás, vou ver A casa de Bernarda, balé baseado na peça de Garcia Lorca.

A outra reserva foi do albergue em Roma: Ottaviano Hostel ou Pensione Ottaviano. O mesmo em que Pablo e Lívia ficaram; aliás, escolhi por indicação, pois fica a dois passos do Vaticano. E como não conheço Roma, achei prudente partir de uma informação concreta.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Causos de biblioteca

Um dia, talvez, eu escreva uma série de crônicas narrando todas as histórias de biblioteca pelas quais já passei. A de hoje foi mais ou menos assim:

Cheguei pontualmente no horário reservado, às 13h. Dois imprevistos: o primeiro, um dos livros reservados havia sumido e a funcionária ficou de procurá-lo (rapidamente encontrado, sem problemas); o segundo, o meu lugar previamente reservado estava ocupado, não por alguém, mas por alguns livros dispostos sobre a mesa. Fui falar com a funcionária para ver o que eu deveria fazer, pois o dono dos livros não estava ali e não tinha como simplesmente retirá-los do lugar. Ela sugeriu que eu sentasse em um lugar perto e, quando a pessoa chegasse, que falasse com ela, solicitando o meu lugar.

Armei o meu acampamento (significa: ligar computador, pegar os livros e cadernos de anotações). Devo ter ficado ali estudando pelo menos uma hora, quando chega um senhor e pára ao meu lado. Eu, percebendo que o dono do lugar havia chegado, levantei-me e comecei a arrumar as coisas, pedindo desculpas, evidentemente. Em segundos, ocorre o seguinte diálogo:

Eu - Desculpe. Espere só um momento que o meu lugar está ocupado.
Monsieur - Vá lá e fale com a pessoa para ela sair.
Eu - Mas ela não está lá, há apenas livros.
Monsieur, com ar blasé, resmungou alguma coisa do tipo: "não tenho nada com isso" e ficou me olhando com um sorrisinho irônico nos lábios. Retirei minhas tralhas e ainda deu tempo de ouvir um cínico "merci".

terça-feira, 22 de abril de 2008

Île de Saint-Louis

Hoje tentei ir à exposição de Camille Claudel, que está no Museu Rodin. Como havia marcado com uma amiga para às 3 da tarde, foi uma tentativa frustrada: logo que entramos na fila, uma funcionária veio e avisou que a venda de ingressos estava esgotada para o dia (o museu fecha às 17h45). Saímos e lá e fomos, então, andar por Paris.

Com uma agradável temperatura e um sol gostoso, atravessamos boa parte do 6o. arrondissement, depois de ter parado para um café, atravessamos o Jardin de Luxembourg (que está lindo, florido e com muitas pessoas passeando), descemos pelo Boulevard Saint-Michel; atravessamos a Île de la cité, fomos até a Île Saint-Louis para tomar o sorvete mais tradicional da cidade. Em seguida, fomos em direção ao Marais, mas acabamos indo até a Bastille! Voltamos, já bastante cansadas, para pegar o metrô.

Na Île de Saint-Louis, uma ilhazinha bem no meio do Sena, com construções muito antigas, é possível ver uma Paris muito charmosa: ruazinhas estreitas, um comércio para turista nenhum botar defeito, prédios com a fachada torta (não conseguimos descobrir o porquê). Dizem as más línguas (e boas também) que Chico Buarque tem um apartamento por ali. Tudo bem, ele pode.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Ainda sobre comida

Aos poucos descobre-se a vida da mulher moderna em Paris. Ou do homem moderno, vai saber. O Lara, por exemplo, iria adorar a descoberta de hoje: Picard, comidas congeladas. É claro que ele não iria comprar as comidas de lá, porque ele mesmo faz seus congelados, mas iria se inspirar em alguns pratos.

Pablo já tinha me indicado a franquia, mas somente hoje entrei numa loja e comprei algo por lá. Vindo da BNF, com bastante fome, já eram quase 8 horas da noite (mas que ainda é dia, por conta do horário de verão), eu e Cristiane entramos e descobrimos ali uma imensidade de coisas muito boas para levar para casa e não perder tempo no fogão. Tem de tudo: legumes congelados, pães pré-assados, quiches, tortas, pizzas etc. Sem preocupação com gorduras trans. A fome não nos deixou sair de lá sem nada nas mãos, mas conseguimos resistir aos doces. E o preço é bom: duas tortinhas por 2,20 euros.

sábado, 19 de abril de 2008

Esperamos que seja mulher


Speriamo che sia femmina é o título em italiano do filme de Mario Monicelli que fomos ver hoje, eu, Pablo e Lúcia, na cinemateca francesa. Filme italiano da década de 80, com Catherine Deneuve; divertido, leve, feminino (fazendo jus ao título). Só um pequeno problema: era falado em francês (eu esperava, sinceramente, que fosse em italiano e legendas em francês); fato que estranhamos, pois o título original é em italiano.

Em seguida, fomos jantar em um restaurante marroquinho: comida, vinho e ambiente marroquinhos. Mas eu, para experiência, resolvi comer paella ao invés de couscous. Talvez tivesse acertado mais se tivesse escolhido a comida típica deles; mas é um bom lugar para voltar mais tarde, porque ele é, de fato, bem barato para os padrões parisienses. O couscous parecia apetitoso.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Um dia de cão

Alguns terão a vontade de me dizer, a respeito do título da postagem de hoje, que estou reclamando de barriga cheia. Não me sinto inclinada a discordar, mas devo explicar meu pensamento: como os cães daqui são muito bem tratados, fico à vontade para continuar dizendo que meu dia foi um dia de cão.

Plano inicial: estudar o dia inteiro. Até às 14h na BNF e depois deste horário em casa. Mas as coisas não correram exatamente como eu planejava. Acordei atrasada, saí de casa correndo, cheguei com 45 minutos de atraso na biblioteca (a tolerância para não perder o lugar é de 1 hora). Na saída, às 14h, vou desmontar meu acampamento e - malditas tomadas francesas (foto acima, à esquerda) - o adaptador (mesma foto, à direita) do meu computador ficou emperrado na tomada da mesa. No início tentei ser discreta para tentar tirá-lo de lá, mas foi impossível. Tentei de todo jeito, mas o negócio começou a machucar minha mão. Uma moça que estava sentada próxima a mim se levantou e veio me ajudar: nós duas, juntas, cada uma de um lado forçando o tal do adaptador para ver se ele saída da tomada... (isso tudo dentro da biblioteca nacional da França!) Depois de alguns minutos, ufa, finalmente tiramos. Morrendo de vergonha, joguei tudo dentro da pasta correndo e saí de lá. No vestiário, para a troca de bolsas (não é possível entrar com bolsa pessoal nas salas de pesquisa), eis que eu esqueço o adaptador na pasta da BNF e só percebo ao chegar em casa.

Lá fui eu atrás de um outro adaptador para o computador. Andei por várias lojas e só encontrei um na FNAC: quase 10 euros. Me doeu, mas tive de pagar, senão ficaria sem computador. Para tentar relaxar, resolvi passar numa loja barata e comprar uma blusinha: prova daqui, prova dali, escolhi uma. Mas nesse prova-prova, o meu brinco caiu em algum momento e não percebi; aliás, só percebi quando cheguei em casa e me vi com um único brinco.

Queria ter um dia tranqüilo amanhã.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Transporte Público

Descobri, dia desses, que tem um ônibus que sai daqui de frente da Cité U e pára bem perto da Paris III, o que significa não fazer a baldeação pela estação de metrô Châtelet - Les Halles, além de ficar bem mais rápido e confortável ir à universidade. Experiência feita hoje e totalmente aprovada!

O sistema de transporte público daqui é extremamente eficiente. Além de uma rede de metrô e trens muito ampla e com horários precisos, os ônibus são confortáveis e sem complicações. Se formos pegar um ônibus em São Paulo (e na maioria das cidades grandes do Brasil) e tivermos de parar em algum lugar que não conhecemos, a informação que teremos é mais ou menos assim: "Depois da rua tal, você desce no terceiro ponto de ônibus. Pede pro motorista te dizer direitinho onde você tem que descer". E lá vai o passageiro pedir para o motorista parar perto da farmácia, ou do supermercado ou da lojinha do seu Manoel. Aqui, em cada parada, há um letreiro mostrando quanto tempo falta para o ônibus passar. Dentro de cada ônibus, há um mapa do itinerário com os nomes de todos os pontos em que irá parar. Assim, temos de nos localizar por nome de parada (como acontece com os metrôs). É muito fácil e evita uma série de inconvenientes dentro do transporte público.

No entanto, há horário certo para cada ponto. Hoje, na volta, o ônibus parou em frente a uma escola e, no momento em que ele estava partindo, uma batida em sua lateral: uma menina pedindo para o motorista esperar que vinha mais alguém para embarcar. O motorista nem titubeou: fechou a porta e partiu.

sábado, 12 de abril de 2008

Complexo de Vira-Latas

Esta semana foi assim que eu me senti: com complexo de vira-latas. Não só pela inaptidão na Prefeitura de Polícia por não conseguir articular um argumento minimamente razoável na língua estrangeira a fim de me defender, mas principalmente por ter ficado constrangida por ter sido bem atendida pelo professor da Paris III. Eu tenho, sim, que ficar grata a ele por me ajudar, mas daí a ficar constrangida? Fiquei com raiva de mim mesma por isso.

Tenho percebido um pouco, aqui na Maison, o quanto a casa nos serve de refúgio: aqui estamos na nossa casa, num família, falamos a nossa língua e mantemos os nossos hábitos. Não é um sentimento explícito de todos, mas percebo que a grande maioria se sente bem e gosta de estar entre brasileiros por uma reciprocidade cultural.

Artes Asiáticas


Hoje fui ao Musée National des Arts Asiatiques (Guimet), também gratuito até 30 de junho. Museu que reúne obras de arte da Índia, China, Vietnã, Camboja, Japão, Paquistão e Nepal, numa imensidade de referências budistas e culturais que estão longe de nossa compreensão e, como bem disse Pablo, de fruição. São muitos Budas, Shivas, louças chinesas, vasos, miudezas que se proliferam nos três andares do museu. A distância da cultura lá representada é muito grande, mas não impede que notemos traços de rara beleza nas esculturas e pinturas, especialmente as do Japão e China. Me diverti um pouco pensando no Gui explicando as referências das dinastias de Qing e Wei da China. Pensei também em quanto Lara e Marco não gostariam de ter uma daquelas pinturas japonesas pendurada na parede de sua sala. Tudo o que me foi possível hoje à tarde: apreciar esteticamente obras de arte que oferecem muito mais do que isso. Do mesmo modo, fiquei dentro do museu cerca de três horas e meia.


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A volta dos que não foram: Grazi, que saiu da Maison há 15 dias, reapareceu quase agora por aqui. Voltou da Rússia, onde visitou as cidades de São Petesburgo e Moscou, mas só retorna ao Brasil daqui a uns 10 dias.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Carte de Séjour (2)

Vou virar novelista da Globo. Tenho já um monte de roteiros na cabeça. A nova novela, em relação à carte de séjour (que já tem seu segundo capítulo e ainda terá um terceiro, podem esperar!), foi hoje. Cheguei na Prefeitura de Polícia 8h20, sendo que ela abre 8h35, para não correr o risco de ficar horas na fila esperando para ser dispensada novamente. Queria adiantar um pouco as coisas, agilizar o processo, impedir empacamentos. Aquela boa e velha amiga que já foi protagonista do capítulo anterior me atendeu novamente hoje e sequer consultou meus documentos: me enviou para o 1o. andar diretamente. Seria um bom sinal?

Estava eu preenchendo as fichas rapidamente, nervosa, com letra trêmula, quando fui chamada. A nova atendente (uma mocinha) pediu todos os meus documentos, viu a carta do professor e perguntou: "Você não tem inscrição em universidade na França?". Eu falei que formalmente não. Não sei por que cargas d'água eles implicaram comigo por conta disso, se conheço várias pessoas que não têm inscrição em universidade daqui. Enfim, ela completou o dossiê e disse para eu esperar ser chamada no outro guichê para marcar o exame médico. Fiquei contente, achando que finalmente tinha passado pelo crivo da documentação.

Passados alguns bons minutos, ela me chama novamente. Disse que seria preciso uma inscrição em Aix-en-Provence, caso contrário eu não poderia fazer a carte de séjour. Não entendi bulhufas. E eis que acontece a mesma coisa da outra vez: mudança de argumento. Não, é preciso uma carta de aceitação da universidade de Aix-Marseille, especificando que o estágio de doutorando é lá, mas que estou em Paris para pesquisa (grande descoberta!).

Nessas horas, maldita é a sensação de ser estrangeira: não ter argumentos bem formulados na língua, que fica muito mais difícil por não ser a nossa; não saber exatamente quais são os nossos direitos; não ter um esclarecimento a respeito dos critérios. Quanto tempo demorou essa brincadeira? 2 horas.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

"Non manuscrite"


"Non manuscrite": este foi o recado escrito no meu pedido de séjour (recusado) na semana passada. Somente hoje consegui novamente encontrar o professor que gentilmente aceitou escrever a carta para mim. Quando eu lhe comuniquei o motivo da recusa, ele exclamou: "Eles são loucos!" Em seguida, passou a carta para uma secretária digitar o texto; aquela simpática senhora e o professor foram tão solícitos com minha causa que cheguei a ficar constrangida com tanta gentileza e saí de lá com vergonha, pedindo desculpas ao professor pelo incoveniente.


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A biblioteca do Centre Censier (Paris III) é muito boa: silenciosa (mais do que a Sainte-Geneviève), quentinha e tem um ótimo acervo. O único problema é que, para eu poder chegar até lá, preciso pegar o trem aqui na Cité, ir até a estação Châtelet - Les Halles (que é um labirinto), pegar duas esteiras enormes, andar por corredores estreitos, entrar no metrô da linha 7 para descer em 5 estações adiante. Tudo isso consome uns 40 minutos (só na baldeação levo uns 10 minutos). Agora imaginem fazer tudo isso com uma bolsa com cadernos, papéis, documentos e um computador a tiracolo.


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Mais uma viagem reservada: para os castelos do Vale do Loire, dias 17 e 18 de maio. São quatro castelos que iremos visitar (vamos eu, Priscila, Letícia e Chiara - uma italiana amiga de Letícia): Chenonceau (foto acima), Amboise, Blois e Cheverny. Excursão de dois dias organizada pelo Club International des Jeunes à Paris, com um bom preço: 96 euros com hospedagem inclusa.

terça-feira, 8 de abril de 2008

BNF

Semana reservada para resolver burocracias (ainda) pendentes. Hoje consegui solucionar duas pendências que já me incomodavam: a carteirinha de pesquisador na Biblioteca National da França e o Passe Navigo. Ambos se resolveram de forma bastante tranqüila.

Na BNF fui muito bem atendida, tanto pelo senhor que me indicou onde deveria fazer a carteirinha quanto pelo funcionário que fez a entrevista comigo. Sem muita burocracia, a sua confecção foi rápida e me dá acesso a um sem-número de documentos importantes para a pesquisa a que me propus fazer aqui.

Já quanto ao Passe Navigo, pensei que seria mais complicado: depois daquela senhora que se zangou porque eu não a compreendia, resolvi pedir o passe pela internet (sugestão de um ex-residente). Enfim, passado um mês, o passe ainda não tinha chegado. O uso desse passe significa uma boa economia com os transportes aqui, sem sovinices. E no mês que não o tinha em mãos, fui obrigada a dispor de um bom dinheiro para andar nos metrôs e ônibus. Fui, receosa, a um outro posto, perto daqui da Cité U. O senhor não foi necessariamente um exemplo de simpatia, mas resolveu muito rapidamente o problema, fez o passe em minutos e solucionou parte das minhas preocupações: assim como eu o entendi perfeitamente, ele também me compreendeu (e eu nem gaguejei)! Consigo mensurar a habituação à língua pela quantidade de "pardon" que solto num dia. Hoje, por exemplo, nem um único. Ufa!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Bom dia, neve!


Surpresa hoje ao acordar. Abri minha cortinha e ei-la: a neve estampando os telhados das casas da Cité U e os seus gramados. Tudo branquinho, lindo! É claro que eu bati algumas fotos deste momento tão inusitado, em plena primavera de abril em Paris!

Se na semana passada fazia uma temperatura agradável e amena, de 13 ou 14 graus, esta manhã consta 1 grau, segundo o site de metereolgia meteo-Paris. A queda de temperatura chegou neste final de semana, mas no sábado ainda estava cerca de 9 a 10 graus. Ontem ocorreu uma boa queda: 5 graus pela tarde. Hoje, então, nem se fala. Resultado disso tudo: nem um narizinho pra fora da porta de casa.

domingo, 6 de abril de 2008

Liberté


Como está noticiado no site do Terra, hoje houve em Paris uma manifestação pró-libertação de Ingrid Betancourt, ex-candidata à presidência da Colômbia e cidadã francesa seqüestrada pelas Farc. A manifestação saiu da Praça do Opéra às 14h30, segundo noticia o site da prefeitura de Paris. Conforme os organizadores, diz o site Terra, estiveram presentes na passeata 30 mil pessoas. Com certeza não computaram na cifra eu e Priscila, que voltávamos do Musée de l'Orangerie e pegamos a passeata quando esta passava por dentro do Louvre. Não a segui, entoando os gritos de "Liberté", mas filmei um pouco dela. Claro que lembrei do Alexandre, que vendo aquela imensa manifestação, quereria juntar-se. O vídeo, então, é dedicado a ele.

Impressões


Hoje, primeiro domingo do mês, dia de entrada gratuita em alguns museus de Paris. Fomos ao Musée de l'Orangerie, que fica no Jardin de Tuileries. O museu é pequeno, com poucas salas de exposição, mas comporta uma obra de peso: Les Nymphéas, de Claude Monet. São duas salas dedicadas à exposição desse conjunto de quadros pintados por Monet com inspiração no jardim de sua propriedade, em Giverny. Os quadros estão expostos de forma circular, como pode-se notar pelas fotos no álbum, e não têm nem início nem fim. São oito telas ao todo, nas quais o pintor evoca a mudança das horas no decorrer do dia, alterando assim a totalidade da pintura.


Na parte inferior do museu estão as coleções de arte de Paul Guillaume e Jean Walter, cujo acervo varia de Monet, Cézanne, Gauguin, Renoir e um Picasso antes do cubismo até pintores menos prestigiados pelos leigos (como eu): Soutine, Laurencin, Utrillo, por exemplo. Todas as obras da coleção foram compostas entre o final do século XIX e início do século XX, com grande destaque aos impressionistas.

sábado, 5 de abril de 2008

Tulipas no lugar dos Gladiadores


As tulipas da foto acima são de um pequeno jardim nas Arenas de Lutece, construções remanescentes da era Galo-Romana. Essas arenas e o museu de Cluny são os únicos em Paris dessa época e ambos ficam no Quartier Latin.

Além de dar uma passada pelas arenas, também fomos à Rue Mouffetard, famosa por suas feiras de queijos, vinhos, frutos do mar e doces. A rua por si só é um monumento: algumas construções são da Idade Média. Depois de lá, uma passada rápida para apreciar as flores do Jardin des Plantes. Tudo sem sair de um perímetro muito pequeno do quartier.

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Hoje eu e Priscila fizemos a reserva de nossa primeira viagem: Roma. Apenas para junho para aproveitar a passagem mais barata. Os preços para maio estão já bem altos. E, a partir de agora, com o calor surgindo, os franceses viajam mais. Logo, preços ladeira acima. Para junho, conseguimos comprar ida e volta por menos de 100 euros, o que pode ser considerado barato. A empresa aérea é uma das que oferecem vôos com preços mais em conta aqui na Europa: EasyJet. E, para maio, temos também prevista uma viagem para os castelos do Vale do Loire, mas a reserva ainda não foi efetivada.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Notre Dame


Hoje, dia de sol, bastante agradável. A temperatura ficou entre 13 e 14 graus. Depois de algumas horas de estudo na biblioteca, resolvi dar um passeio (aproveitar o raro sol desta época) e fui até a Notre Dame.

Menos cheia do que a outra vez, foi possível entrar e visitá-la. Não subi até sua torre, pois para ir lá é preciso pagar, mas entrar na igreja já é um bom exemplo de sua arquitetura e arte: os vitrais são espetáculo à parte (fotos no álbum). A igreja, em seu redor, é composta de várias capelas; em volta do altar (a nave central), pela sua parte externa, está toda a vida de Cristo narrada por meio de pequenas esculturas (a visita faz o caminho inverso à narrativa); em cada capela há um vitral belíssimo e, no meio da igreja, dois grandes vitrais, redondos, em tom de azul e vermelho. A rosácea, como cada vitral é chamado, retratam alguma coisa. A Rosácea Oeste, da fachada, representa a Virgem; A Rosácea Sul representa Cristo; a outra não sei.

Notre-Dame de Paris começou a ser construída em 1163 e levou dois séculos para ser terminada, é um belo exemplo de arquitetura gótica. Na sua fachada estão representados, em 28 imagens de pedra, os reis de Judá; já o portal de entrada, chamado Portal da Virgem, foi construído no século 13 e apresenta a santa cercada de santos e reis.

O grande problema é o mesmo de toda Paris: lotada, em qualquer momento. Fila na entrada, fila para ver os vitrais, fila para ver as pequeninas esculturas que estão ao redor do altar. A grande maioria era, claro, turistas batendo foto de tudo. Alguns estudantes de desenho sentados à frente de algumas esculturas ou dos capitéis. Por fim, alguns fiéis orando (a grande minoria, na verdade, uma vez que 40% dos franceses se declaram ateus). Eis que na frente do altar havia uma senhora ajoelhada rezando. Aproximei-me para tentar bater uma foto do altar e, surpresa, ela era brasileira.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Carte de Séjour

Mais problemas burocráticos. Sabendo de antemão que a carte de séjour (documento de residente temporário em Paris) é uma coisa complicada, marquei um encontro com o coordenador do grupo de pesquisa para ontem. Como eu havia solicitado, ele escreveu a carta de aceitação especificando a data exata de minha estadia aqui. Com a carta do professor em mãos, fui contente e serelepe para a prefeitura de polícia dar entrada ao séjour (não sei exatamente, mas parece-me que há várias etapas).

Minha teoria: eu acho que, pela grande demanda, eles têm o procedimento de refutar alguns pedidos para distribuir o número de protocolos por dia. E, para tal, criam argumentos, sem qualquer critério claro. Digo isso porque fui com todos os documentos exigidos e suas devidas fotocópias para evitar contratempos.

Antes de mim, a senhora atendeu um casal (ele, acho, francês ou com o francês fluente e ela, uma estudante oriental). O comprovante de residência dela era apenas uma carta que eles provavelmente imprimiram do e-mail, sem assinatura. Isso foi suficiente para a recusa dos documentos e um bate-boca bem à moda francesa: ele cochichando qualquer coisa incompreensível para mim e ela falando em meio-tom, mas visivelmente nervosa e repetindo sempre o mesmo argumento: não é o original, precisamos do original; com um sorriso nervoso no rosto.

Chegou a minha vez: a mulher ainda estava muito nervosa e resolveu encrencar com a minha carta. Dizia ela que era preciso a carteirinha de estudante. Eu bem sei que não é preciso, pois isso é bem comum aqui na Maison: o doutorando está vinculado a um grupo de pesquisa, mas sem a inscrição na instituição. Eu falei que já tinha sido aceita pelo grupo de pesquisa e lá iria trabalhar. Então, ela viu a carta da CAPES especificando que a minha instituição é em Aix-en-Provence. Daí mesmo que ela não entendeu nada. Eu disse que, embora a minha co-orientadora seja de Aix, eu vim trabalhar com o grupo de pesquisa tal aqui em Paris, pois este é o interesse de minha pesquisa. Ela saiu duas vezes para falar com o responsável e voltou afirmando que eu precisava da carteirinha de estudante. Eis que, de repente, ela resolver aceitar aquela situação, mas com um argumento um tanto estranho: a carta está manuscrita, é preciso que ela esteja digitada. No mesmo instante, ela organizou a papelada toda, marcou um outro encontro para a próxima terça-feira e me dispensou... aos poucos ela foi se acalmando e não foi, em nenhum momento, grosseira comigo. Mas utilizar um argumento desses é dureza.

Dureza mesmo é saber que o professor responsável pelo grupo deve ter viajado hoje e só volta na próxima terça.