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sexta-feira, 25 de abril de 2008

Penúltimo capítulo

No capítulo anterior da novela, houve um rápido bate-boca entre mim e a atendente da Prefeitura de Polícia em relação a divergências nos critérios de seleção para a carte de séjour. A atendente queria, a todo custo, que eu tivesse uma inscrição universitária na França, mas eu sabia que tal inscrição não é necessária.

No capítulo de hoje, eu estava na fila do térreo para passar pela primeira triagem: eis que eu vejo não a senhora de voz estridente que gosta de dispensar as pessoas, mas um rapaz sereno e que mandava todo mundo para o primeiro piso. Faltando duas pessoas para a minha vez, ela surge imponente escada abaixo: a senhora gordinha da voz de taquara-rachada. Primeira taquicardia. Mas dali eu sabia que saía rapidinho. Ela imprimiu minha senha - mas antes dispensou uma menina - e eu subi.

No andar de cima vi a mocinha que protagonizou o bate-boca e me mandou para casa aos prantos. Felizmente, fui atendida por outra pessoa. A funcionária de hoje era calma, gentil, diria até que graciosa. Ela viu minha documentação, soltou um "très bien" e pediu-me que esperasse (detalhe importante: em nenhum momento ela falou em inscrição formal na universidade). Segunda taquicardia. Dali a instantes ela me chamou novamente, entregou-me toda a documentação original, imprimiu meu título de séjour temporário e me encaminhou para marcar o exame médico. Très bien, pas de problème! Por que estresse?

Curiosidade: no andar térreo, na primeira triagem, a gente encontra os funcionários mais enérgicos. Lá é o verdadeiro furdunço da Prefeitura de Polícia; é onde estão inúmeros estrangeiros, muitos com informações desencontradas e sem saber exatamente como proceder. No primeiro andar, com suas cabines e atendentes, o humor varia. Hoje, por exemplo, todos estavam calmos, pois havia pouca demanda. Alguns até bocejavam, outros lanchavam. Há um número bem menor de estrangeiros solicitando o séjour por ali. Segundo andar: não é mais triagem, já é a reta final. Quem está ali, passou pelo crivo de todos os outros olhos e avaliações. Quantas pessoas estavam lá? Somente eu. Quantas pessoas já haviam passado por lá? Segundo as anotações do rapaz que me atendeu, não mais que oito pessoas. Para onde vão todos aqueles que formam uma imensa fila à porta da Prefeitura de Polícia logo cedo?

Também é interessante observar o quanto temos de nos apresentar na Polícia, mesmo no tempo curto que aqui permanecemos. O visto que é pego no consulado vale por 3 meses. Aqui, precisamos pegar o séjour, que vale por 1 ano, mas antes há um recibo que vale por 3 meses também. Caso não façamos o exame médico, não conseguimos a carte. 3 meses antes de vencer o prazo do visto de residente temporário, é preciso retornar à polícia para renovar o titre. Enfim, nessa brincadeira toda, a cada 3 meses temos de nos apresentar à polícia e dizer: "Olha, eu ainda estou aqui, legalmente, mas vou embora logo!"

Dia 20 de maio será o dia do exame médico e quando pego a carte de séjour definitiva, válida por 1 ano.

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