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quinta-feira, 17 de julho de 2008

Outra história de ônibus

Num país que oferece tantas vantagens para os imigrantes como a França, é mais do que normal se deparar com vários tipos étnicos. Chineses, latinos, árabes, africanos em geral, turcos etc; enfim, uma variedade muito grande de tribos que convivem, aparentemente, pacificamente. O apoio governamental que é dado ao imigrante legal é muito amplo e bom; e mesmo o imigrante ilegal pode contar com inúmeros apoios. Auxílio no pagamento do aluguel, sistema de saúde pública complementar, transporte e entrada em ambientes culturais gratuitos para os desempregados: tudo isso a gente pode ter em pé de igualdade com os franceses. Enfim, com isso o país é um grande sonho para muitas pessoas que vêm de países mais pobres e que não contam com a mesma qualidade de vida.

Mas tudo isso porque eu quero contar um conflito que vi, provalvemente, entre dois imigrantes. Hoje, indo para a biblioteca, houve algum embate entre um africano - aparentemente imigrante ou descendente de imigrantes (mesmo nascidos em território nacional, os filhos de imigrantes, paradoxalmente, continuam sendo considerados imigrantes) - e um outro cara do ônibus que não consegui observar se era francês ou não. Provavelmente não. Eu não percebi o início da briga e demorei para perceber que aquilo era uma briga (apesar dos gritos em tom alto, pensei inicialmente que fosse alguém indignado com a política de Sarkozy, comum por aqui). Quando me dei conta de que os dois homens estavam aos berros, quase não consegui acompanhar a discussão: olhei para trás e vi que eles estavam muito perto um do outro, mas não se tocavam; xingavam-se mutuamente. Isso gerou reações. Um grupo tentava segurar um homem enquanto outro colocava o africano para fora do ônibus, na tentativa de acalmá-lo. Percebi uma senhora fazendo uns comentários, do tipo: "mas isso é racismo!" De fora do ônibus, o homem ainda gritou algo como: "Árabe!", o que gerou outro comentário da senhora: "mas daí ele já tá misturando as coisas".

Interessante notar essa questão de que, apesar de estarem muito bravos e gritarem rosto a rosto, eles não se tocaram (quero dizer: podem até ter se tocado, mas não saíram na porrada). Isso é muito forte aqui, como código social: se você toca em alguém ou alguém toca em você, o pardon é inevitável. No desfile do 14 de julho, por exemplo, apesar da multidão na avenida, não havia o toque entre as pessoas.

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